quarta-feira, 10 de outubro de 2007

MEUS PEDAÇOS

Tento me recompor, tenho momentos alternados de interiorização e outros de profunda tristeza. Procuro me encontrar entre meus pedaços e recomposta tento sobreviver a cada dia. Vê-se que hoje o dia não amanheceu para os melhores.
Tenho a necessidade do silêncio para que minha alma fale, que conte de suas agruras e travessuras que me colocam aqui neste estado.
- Mas afinal temos aqui uma questão e vamos resolvê-la juntas, falou a alma em tom alto e forte, mostrando que agora era ela que mandava ali.
Faço mais silêncio para poder escutar com clareza.
- Sou eu mesma que te falo, sua tonta! Não tens mais para onde ir, tudo está confuso na tua cabeça e mal te pões de pé quando acordas. Desta forma me tomei da razão e resolvi vir falar direto contigo. Afinal tu me conheces e se tem alguma coisa que te preservou até aqui fui eu.
Levanto os olhos para ela e peço em tom de misericórdia.
- Fala então.
­- Eu não falo, eu escrevo.

quarta-feira, 3 de outubro de 2007

CARTA

Meu Amor,
Como dizia o poeta "eu sei que vou te amar, por toda a minha vida..." e foi assim que começamos a nos dizer adeus. Ainda não entendo toda essas coisas loucas que daçam como figuras esquálidas de terror, misturadas em palavras doces e melequentas. Vendei por muito tempo os olhos, dancei nas esperanças e não te percebi. Não percebi que partias, que as malas estavam arrumadas. Perdida em sonhos, descobri a alma, me fiz poeta e adormeci.
Depois, na dor criei assas, vontade imensa de voar, ver a cidade de cima e dançar livremente ao vento no sabor do tic tac do teclado. O que escrevo não me decepciona, apenas crio as imagens do meu coração.
Sigo a vida, deixo as lembranças, parto em busca dos sonhos, da viagem desconhecida.


segunda-feira, 1 de outubro de 2007

"PREGO"


Quase roubaram de mim também as letras.

A dor lascinante cerrou meus olhos, e paralizou a alma.

Tive muito pouco tempo para entender os signos

E sucumbi em interrogações.

Estive muito só.

Mas os signos decifram-se em solidão.

Toco minha pele ainda dolorida e percebo o quanto ainda estou viva.

Deixo languidamente para trás as tristezas

Volto a colher em letras as verdadeiras revelações

sábado, 18 de agosto de 2007

ONDE ESTAVA

- E ai amiga, por onde andavas?
- Não andava, dormia.
Dormi. Hibernei em uma viagem interna que jamais havia vivido antes. Encontrei imagens esquecidas e empoeiradas. Refiz caminhos, me vi desnuda em uma sala de espelhos.
Meu gato e minha cachorra não cansam de me olharem de canto de olho, totalmente perdidos com as minhas mudanças e loucuras, ou estou trocando caixas de lugar, ou paralisada, muda, olhando cada pedaço de mim.
Retorno ao meu trabalho e a mim mesmo, mulher que eu gosto, cheia de contradições, mas muito inteira nas minhas escolhas das quais sou fiel e um tanto irracional para alguns.
Não sei viver sem o amor. E ele sempre está lá em tranqüila certeza de sobrevivência. Contra tudo e contra todos, ele se assentou na minha carne e nos meus cheiros, como parte de mim. Meus passos determinados soam em tons de bolero onde dança comigo.
Mas não posso impedir as transformações, este remexer de areias que em blocos se reacomodam e não perdem sua mania de voar ao sabor do vento. Sobrevivendo a dor venho me criando e recriando, desfazendo velhas costuras. Tem momentos que me sinto como num SPA elegante, os períodos de banhos quentes perfumados se misturando à camas de tortura com choques elétricos e sucessivas loucuras.
Cada minuto de sobrevivência é acompanhado pelo silêncio, premio pela rebeldia de teimar em ser feliz.

sexta-feira, 3 de agosto de 2007

POIS É...AQUELA HISTÓRIA DA CARTA.

POIS É...AQUELA HISTÓRIA DA CARTA.


Não queria nem lembrar desta história, mas sempre vem alguém com aquela perguntinha...
- Não te lembras?
- Não!
- Daquela vez da carta?
E ai vem tudo novamente à tona, começam a passar na memória todas aquelas imagens terríveis que não posso esquecer. Eu sei que era jovem ainda, foi exatamente quando vim morar aqui nesta gaveta. Vocês nem podem acreditar mas tive experiências inusitadas por aqui. Conheci gente de todo tipo e procedência, desde os mais simples aos mais intelectuais.
Quando cheguei aqui eu era só, ninguém mais povoava meu território, mas com o passar do tempo foi chegando a poeira e junto com ela iniciaram as primeiras colônias de fungos e todos aqueles ácaros. Vocês podem imaginar?
Até quando percebi um movimento bem no canto esquerdo do fundo da gaveta. Surgia ela, toda nova, se espichava e estirava seus pequenos braços para nascer. Chegava naquele instante ao mundo D. Amália da Silva Barata. Olhou-me toda assustada, e com uma voz melosa perguntou, onde estou?
Finalmente alguém tinha surgido para preencher o vazio da minha vida. Sem saber com quem exatamente eu falava, respondi:
- Você está numa gaveta. Até sei que esta é uma peça de uma escrivaninha elegante, que fica em um importante escritório, onde se criam coisas inimagináveis e belas.
À parte digo a vocês: não era hora de contar a ela toda a verdade. Verdade de que a realidade não tinha nada de tão importante nem elegante e a única coisa criada falava com ela e morava na mesma gaveta. Desta forma creio que delineei os primeiros passos de D. Amália tão importante personagem nesta historia..
Posso dizer a vocês que se passaram cinqüenta gerações desta família em minha vida. Surgiram grandes indivíduos, e outros tantos milhares de medíocres colaboradores. Mas jamais poderei esquecer da ilustre senhora Dona Amália da Silva Barata, matriarca desta estirpe, responsável por tão pródigas gerações.
Voltando a história da carta....Há, esta inesquecível e ignóbil carta ! Uma desgraça , meu amigo, para não dizer a maior de todas as desgraças.
Como sabem ...Minha vida deveria estar na rua, quem sabe nos palcos, passeando pelas mãos de uma verdadeira multidão de pessoas, mas minha fortuna me mantinha ali preso àquela gaveta vivenciando a história daqueles pequenos personagens que dividiam sua sorte comigo.
Voltando a novela da malfadada carta...Um dia abriu-se a gaveta. Os primeiros raios de luz cegaram a todos os moradores. Com o olhar estupefato percebi que se dirigia ao interior de nossa gaveta a mão de meu autor. Vocês não podem imaginar que tão grandioso momento, finalmente eu sairia à luz, finalmente eu poderia viver a glória a qual fui criado. Minha cabeça rodava e meus pensamentos se sucediam como em avalanche. As lágrimas enchiam meus olhos, turbava minha vista.. Oh Deus!! Que felicidade!
Neste instante percebi ainda com os olhos nublados pelas lágrimas que em sua mão havia uma carta, e como num átimo de segundo tudo pode acontecer a carta foi jogada na gaveta seguida de um grande pacote. Fechou-se a gaveta novamente.
Não podia entender direito o que se passava.
Aos poucos meus olhos, marejados de lágrimas e cegos pela luz foram se adaptando a nova escuridão, olhei ao redor da carta que estava bem ao canto e logo percebi que se dirigia ao meu autor, pude lê-la:

Prezado Sr, Autor

Recebemos o manuscrito anexo e informamos que o mesmo foi rejeitado por nossos editores. Mesmo assim lhe encorajamos a enviá-lo em outra oportunidade quando tivermos maior disponibilidade financeira.
Atenciosamente
Editores.

Era a morte! Mais cem anos de gaveta tinham sido determinados para mim. Não mais sonhos, nem mais ilusão. Meu mundo vinha a baixo. Se eu não morria, pois não se mate assim como assim um personagem, eu me sentia involucrado em minha sorte. Nada poderia ser pior. Meu Deus! Nada poderia ser pior!
Poderia...
Olhei o grande pacote que tinha sido jogado ao fundo e percebi que era o manuscrito de minha novela, olhei mais atentamente e não pude acreditar no que meus esbugalhados olhos me mostravam. Embaixo do papel pardo, saindo por entre as cordas que o amarravam, vi um pequeno braço e reconheci aquele anel. Jazia ali Dona Amália da Silva Barata. Minha grande companheira, respeitável senhora e dona de uma história inigualável.
Meu mundo ruiu, não sabia o que pensar...
Percebem senhores, porque não posso nem pensar naquela amaldiçoada carta?
Ali se iniciava a maior solidão já vivenciada por Pessoa.

terça-feira, 24 de julho de 2007

O beijo

Recebi teu beijo
flor orvalhada em centelhas de mar e espuma.
Partimos em destinos tão distintos
Calado no nosso primeiro e unico beijo.
Hoje celas minha boca como da primeira vez
Possuis minha alma.
Porque crescemos
Porque apartamos nossas vidas
Porque seguimos estradas distantes.
O mesmo presente
Como da primeira vez.
Celado em aguas doces
Cintilante pacto
Vivo para sempre.

quarta-feira, 4 de julho de 2007

SONHO

Sinto a tua pele nos meus lábios,
Sorvo suavemente a saliva doce
Que molha minha garganta.
Fecho os olhos e antecipo a cena.

Meu corpo estremece ao teu calor,
As areias brancas se partem em oásis.
Rasgam-se os véus da noite
A lua brilha em pratas e coroa minha face.

Silêncio.
As ondas do mar iniciam suavemente sua dança
Pouco a pouco sobe o tremor a garganta.

Congela o minuto.
O suave bater das ondas toca nossas almas
Olhos parados nos olhos
Um único instante
Geme a vida e submete-se a plenitude.

terça-feira, 26 de junho de 2007

DESANOITECER

Foto: João Alcantara Nunes


Dos galhos secos esperas o nascer do sol.
Despenca a escuridão e o azul pinta na vida os primeiros traços.
Permaneces assim dobrada nas asas,
Ainda da noite fria paralizadas.
Logo sairás em revoada.
Desfruta o amanhecer enquanto o sol ainda espreguiça a vida.
Sorve o sabor do silêncio,
Deixa que a poesia penetre tua carne
E Aquece tua alma nas palavras da noite.
O amor não morre,
As vezes muda apenas de endereço.

terça-feira, 19 de junho de 2007

SILUETA

Suavemente contorço os dedos e deixo que a luz do sol, tenue e fresca da manhã, penetre minha pele e desperto. De todos os sonhos o mais concreto sempre esteve aqui. Encontro e reencontro as peças espalhadas da batalha vencida. Desnuda, espreguiço o sol sobre minha pele e deixo que o arrepio da manhã dance em meus braços, minha coluna, minhas pernas, minhas entranhas.
Amacio as mãos com meu cabelo, sacudo a vida e me derreto a rir.

sexta-feira, 18 de maio de 2007

ESQUECIMENTO


Conversamos com olhares e toques.

Teu esquecimento me trás a imensidão do instante.

Perdem-se as passagens, permanecem os sentidos.

Memória que não se traduz em palavras,

mas ato puro do amor vivido.

Esquecestes por amor,

e só o amor em ti fala.

Vives para olhar

a permanência do infinito.


quinta-feira, 17 de maio de 2007

VEJO


Quem me dera por um segundo permitir-me ficar assim,

vendo em branco, já porque em negro não se vê mais,

e valha-me Deus, ainda não cheguei lá.

Quem me dera não saber do cinza que pinta o ar,

desenhando retas e curvas sinuosas,

dita realidade que ousam em me firmar.

Quem me dera permanecer debruçada em parapeitos

olhando distraida a rua molhada em neblina,

fumaça branca da pele umedecida.

Quem me dera permanecer neste pulsar intenso,

arrepio de alma e ardente flamejar.

Crio e recrio. Nasço e morro.

Desenho colorido e me deixo amar.

domingo, 13 de maio de 2007

AMANHECER

Silêncio.
Rua vazia.
Quietude e reverência.
Desperta lentamente o dia.
Abro os braços e estendo a vida.
Dilato a alma e prenho as entranhas.
Palavras, doce compania.
Com elas desenho meu amanhecer.

segunda-feira, 7 de maio de 2007

CAIR


Vejo a queda e não posso estender a mão.

Pasma meu silêncio ecoa em água.

Despencam as falsidades e a cegueira.

Doi mais a impossibilidade de amar,

imobilidade que a claridade do sol espalha nos espelhos.

Volto ao meu caminho,

sozinha espalho as folhas ao chão

Nelas escrevo meu destino.

A borboleta passeia sobre mim e pousa nas alturas.

Não sei viver sem asas.


domingo, 6 de maio de 2007

ÁGUAS


..."Escrever me dá o grau da medida do silêncio. Clarisse Lispector"

Na imensidão da água que flui constantemente entrego minha pequenez e meu coração. Não há amor maior do que o da natureza, sempre ali, pronta, vestida de festa para o encanto. É necessário fazer silêncio para que o ronco das águas nos falem seus segredos. Viver no fluxo como o rio prenhar cada curva de terra que se faça obstáculo. Tomar em mãos as suaves gotas que se espalham pelo caminho e deixar que o sol em sua cálida ternura acaricie meu rosto e deixe que repouse minha cabeça nesta suave mágica.

segunda-feira, 30 de abril de 2007

VASO

Queria sentar-me aqui e ficar dedilhando estas teclas sem parar,como se o tempo, todo meu, sustasse no vácuo e eternizasse para sempre este mergulho sem fim. Queria encontrar um lugar de baixo de árvore, imensidão na vista, um ombro gostoso para voltar, um chá e uma torrada. Olhar com carinho teu rosto, passar minha mão quente e macia em tua face e deixar ver em ti a imensidão. Em frente à janela de vidro, que ocupa toda a extensão da sala, o sol envermelha o céu e a terra antes que se deixe cair o manto da noite. Componho-me em frente a esta visão e assim me deixo levar embalada no belo e no mágico. Sinto tua mão forte, grande e segura tocando meu ombro com quentura. A taça nos toca as mãos, deixo descer vagarosamente o saboroso vinho por minhas entranhas. Doces frios correm por minha pele. Deixo cair minha cabeça no teu ombro. Fecho os olhos. Adormeço em mim.

ANÉIS


Rompem-se os véus de luzes.
Turbilhão de emoções.
Deixo-me fluir de acasos e
entrego-me a vida com sabor de liquém.
Desfaço nós e teço o caminho.
Doce sentir o aconchego no abraço da vida,
quando a sentimos pulsar em nós.
Encantam-me os primeiros toques.
Percebo o corpo tremer novamente e sonho.
Convenci-me que só sei sonhar.
Embalo o corpo neste balanço
e entrego meus lábios para o doce.
Sinto fluir a seiva que não morreu em mim.

quinta-feira, 26 de abril de 2007

DECAEDRO VIII, IX, X

VIII


Movem-se lentamente os dedos
Volta a fluir nas veias o sangue
Despertar é morrer,
Dormir é falecer em mim.
Torrentes cobrem o corpo
Ainda gelado e torpe.
Movimentos da vida
Relembram a morte
Solidão infinda
Sinfonia desperta
Tomba a fantasia.
Tocam os clarins.
IX


Doces sonhos acalentaram a noite.
Amanheceu a ternura
Regada no manjar dos Deuses
Cetins e rendas recobriram meu corpo
Desnudei as taças do amor
Contei estrelas
Coloquei venda nos olhos
Exauri.
X

Termina a cena
Desce o pano.
Ribalta escura
Vazio.
Loucos personagens vagueiam
Buscando máscaras
Para esquecer o fim.

domingo, 22 de abril de 2007

DECAEDRO V, VI, VII.

V


Sonho
Sonho com o cálice de cristal
Brilhante e incólume
Suspenso no ar pelas mãos dos amantes
Luzes se multiplicam nos prismas
Refletem a vida contida ali.
Ah, lindo cálice sagrado
Cada gota do doce vinho escorre
Silenciosa por teu perfil
Brinda o amor e suas faces
Milhares de cores
Juras sem fim
Quisera eu cristalizar o sonho
No parado tempo sem estrela,
Sem sol, nem lua.
Para não ter de ver estilhaçado
E chorar a saudade que bebi em ti.
VI


Velo teu sono, meu amado
Torno infinito os minutos do despertar
Em tua face pouso a mão
Sinto tua pele entrar em mim
Dormes, e vivo em sonhos
Antes que os olhos da manhã se abram
E eu descubra que não estivestes aqui.
VII



Sacode o dia a poeira da verdade
Espreguiça os braços e
Verte a seiva de concreto armado.
O solo racha as veias da vida,
Queimam os olhos de luz,
Estremece a realidade.
Não mais sonhar,
Não mais dormir.
Arregala a visão ao inevitável
Chove a razão
Arrasa o acaso.

quinta-feira, 19 de abril de 2007

DECAEDRO IV

IV

A morte se esgueirou
por quem espalha tempestades
Extinguiu-nos na dor
Que perfurou a alma.
Busquei no ar o que sobrou de mim.
Lentos dias se fizeram ocaso.
Extenuada me perdi sem ti.
Toques mudos e sem respostas.
Submersa no abandono
Enlouqueci.
Busquei nossos corpos
Para estancar as chagas
Te encontrei vagando em teu vazio
Te toquei com solenidade e lentidão
Percebi teu corpo estremecer
Voltamos a vida entorpecidos
Feridos e marcados
Pela mentira e desventura
Nossos corpos se amaram.
Renasci.

quarta-feira, 18 de abril de 2007

DECAEDRO III

III

Noite.
Sempre é noite na tua ausência
Sopra o tempo e o lugar se aninha.
Minutos se eternizam
E a alma se apaga.
Noite.
Levanta o sol por trás do nada
Durmo sempre sem saber
Que é dia.
Noite.
Nada desperta se não tem teu cheiro
Troco a face do espelho
E esqueço a vida.
Amanheço.
Desperto com o chegar da hora
Do bálsamo que afaga minha sina.

segunda-feira, 16 de abril de 2007

DECAEDRO II


II

Silêncio.
Te presenteio hoje com meu silêncio.
Doce ausência de rumor d’alma.
Lágrimas esquecidas em mim.
Silêncio.
Que teus olhos busquem na minha face
Palavras desletradas e mudas
Olhos apagados e vazios.
Silêncio.
Não ouvirás minhas risadas
E este é meu melhor presente.
Amanhã, talvez venhas
Louco de saudade
Te encharcarás no meu hálito
E beberás meu ruído.
Silêncio.

DECAEDRO I

I

Desde a primeira vez que te vi
Molharam meus olhos
E enxuguei a vida.
Minhas mãos se abriram,
Arrepiei a pele e tremi.
Num único momento a onda do mar
Pisa a terra e morre.
Infinitas ondas,
Infinitas quedas,
Infinitas mortes.
Te amar foi deixar viver
A doce seiva que escorria em mim.
Infinitos beijos
Infinitos toques
Infinitos fins.

terça-feira, 10 de abril de 2007

CAMARIM

Perguntaram-me, e afinal como te sentes?
Bem... Mas está me faltando aquela sensação de gelar a pele, de respirar perfumado e de tremer a mera possibilidade do toque. Loucura pensar nisso agora, mas infelizmente não sei viver se não for assim. Nasci para amar, e me seduz a doce loucura de estar apaixonada. Estive por ai triste, mais do que tudo pasma por mais um desencanto, mas ainda continuo louca de amor. Não fui preparada para ter racionalidade nestes casos, e pelo jeito não aprendo mais. Aprendi, porém, que no amor não se caminha para traz. Quando finaliza, o amor se fantasia para novos encontros, e neles continuamos a tratar a alma com óleos perfumados. O amor não se repete no mesmo cenário. E como não sei viver sem amor, minha peça é sempre original, não se repete. Hoje estou no meu camarim, tenho na mesa potes coloridos e perfumados, trato este momento com carinho e me preparo para entrar em cena. Viver de amor, sonhar, esperar e saber que por mais imprevistas as desilusões, sempre o amor espreita para transformar e apresentar um novo espetáculo.

sábado, 7 de abril de 2007

FESTA

Escrevo no livro dos meus sonhos. Meus personagens se vestem em gala para o inicio da festa e aguardam anciosos o momento da revelação. Entre eles a agonia pelo desconhecido faz com que se calem ao menor estridente som que se misture com seu tempo. Se percebem e se reconhecem nos signos, fazem parte de múltiplos universos que os criam e recriam, independentes de que eles existam ou não.
Abre-se a pagina em branco e, um a um entrando com reverência, postam-se em linha e unem-se formando belas figuras, doces desenhos de campos, flores e água. Corrente, límpida e incansável, que canta nas curvas dos seixos a felicidade de ser e permanecer ali.

sábado, 31 de março de 2007

Cumplicidade


Enrredo as mãos no cabelo, seguro a cabeça e me deixo levar pelas imagens e palavras que desembocam em meu computador. Horas sem fim de puríssimo enlevo e descoberta. Paginas prenhes de signos e magia. Me esqueço que a noite varre pra dentro e a lua já se escondeu no prédio da esquina. Sai por ai e me perdi de boteco em boteco, em cada um me embebedei de letras. Agora bebada e enlevada vou ao decúbito dorsal deixar que a letargia me traga os sonhos que me inspirei nesta madrugada.

domingo, 25 de março de 2007

Cumplicidade do Silêncio




Abandonei por um tempo as palavras, para que repousasse em mim o silêncio. Hora de repor as peças em sombra, humidade e sol para que se possa desfrutar deste intenso aconchego. Deixar fluir pela pele o suave suor que ilumina e tratar com as mãos as raizes humedecidas. A água como testemunha espelha minha face enlanguecida. Silencio com o sangue e a respiração e deixo que a eternidade perpetue em mim. Lentamente abram-se as pétalas e nasce a flor em sua formosura.

segunda-feira, 19 de março de 2007

São as águas de março fechando o verão é promessa de vida no meu coração...

Molho as mãos, o rosto e alma. Encantam-me as imagens que vejo nas gotas deslizantes da janela. A rua molhada brilha anunciando novos sonhos. Sem limites, sem medos, apenas deixar correr suavemente as gotas de chuva sobre o meu corpo em suave batismo de vida nova.

sexta-feira, 16 de março de 2007

ENCONTROS


Entrego-me ao doce embalar da minha canção de ninar cantada nos acasos e surpresas que o dia me premiou, onde lavar e estender os panos da vida sob o sol aquece o frio que penetrava as entranhas. Sonolenta, enrolo a alma e deixo o sonho brincar de roda comigo. Tomo o condão nas mãos e desenho com ele no espaço. Nas pontas dos pés danço a música mágica que acalenta, transforma e ilumina.
Não chora mais menina, vê que luz penetra as arvores e brinda as folhas do chão de dourada figura. Percebe que já amanheceu e teus cabelos desalinhados cobrem teu rosto emaranhando a vista. Varre a vida. Toca tua face com as pontas de teus dedos, e fecha tuas feridas. Veste-te em sedas, alisa o corpo e deixa que música da rua desperte teus sentidos.

quarta-feira, 14 de março de 2007

AMIZADE

Entre as folhas escritas no céu, tapadas de gliter de estrelas senti minhas mãos apoiadas em terra firme. Um gosto de sal e açucar foi parar nos meus lábios quando, ao mesmo tempo, o ar entrava forte e profundo saindo num unico gemido. Recostei minha cabeça e descancei ali todas as minhas dores. Suave, doce e constante.

quinta-feira, 8 de março de 2007

PRISMAS

O céu me brinda com suaves e coloridas figuras. O cinza deu lugar ao azul pintado de laranja. Corre por minha janela um vento ondulado e refrescante. Suave e doce momento de um escaldante dia. A chuva lavou as pedras enfileiradas da rua e encheu minha alma com as luzes coloridas que atravessam o prisma.

Amanheço

Espreguiço a alma em suaves contornos de braços
e deixo o sol iluminar minha alma.
Mergulho profundamente no mar da vida
onde doces sentidos me cobrem o corpo.
Enfeito meu dia em lânguidas imagens
que me acompanham e me fazem rir.
Faço do imaginário minha sublime oração.
Meus desejos se espalham nas teias da vida
e espero.
Espero pela magia do inesperado.
Espero na inocência imaculada dos meus sonhos.
Abro as asas desenvolta em certezas
que meu voo é livre
e que meu céu eu pinto de azul.

sexta-feira, 2 de março de 2007

Posted by Picasa

Sonhar e Voar

Começam a fazer sentido as letras que escorrem pouco a pouco da ponta de meus dedos. Tímidas se reúnem no canto e entre os olhares cruzados de surpresa e mistério observam a tudo assustadas, muito pouco acostumadas a minha nova figura. Estiveram escondidas em cadernos velhos e páginas amareladas, depositadas em armários e gavetas, sem ordem ou mesmo lógica.
Silenciosas cumplices.

Ninguém mais me entendeu tanto ou me teve tanto como elas. Jamais reclamaram nada, nem mesmo o tipo de papel, ou tela em que se amontoavam, nem exigiram de mim liberdade. Entre nós sempre existiu a certeza de uma cumplicidade sem limites, sem mentiras ou mesmo roupagens de que não fosse única e simplesmente minha carne nua.

Neste momento magico as deixo fluir em correnteza e me permito rolar com elas por entre os seixos e curvas que constroem minha vida. Pouco se importam com a ordem ou com a razão. Assutadas sorvem a liberdade que iniciamos a viver. Balançando suavemente, dançam aos sons das águas, provam a nova textura e esticam os braços em suave espreguiçar-se.


Hoje as convido a olhar em espelhos, arrumar a figura e sair.

Acho graça de seus olhares admirados e a vontade louca de correrem e desvendar nossos segredos e sonhos. Fui muito egoísta em as prender comigo por tanto tempo. Porem, é justo este tempo, sagrado e onipotente que nos permite abrir as asas sem medo, deixando que o vento sopre e nos conduza aos nossos mais belos e arrojados voos.