quarta-feira, 10 de setembro de 2008

COLHEITA


Escrevo e me inscrevo nesta terra de vida

Aos que chegam saúdo em letras

E linhas de poesia

Corre por entre os dedos

As luzes do entardecer que encerram o ciclo

Reinaugura e estabelece

O tempo da colheita.

domingo, 10 de agosto de 2008

LA CÁRCEL

"Repousa menino o teu gozo na infinidade do tempo,

tua face adormece em mim."


Basta um minuto
Rompem-se os elos
Abre-se o cativeiro
Basta um minuto
Livres alcançamos
os limites do universo
Sombras agrilhoadas no vazio
armam o proprio destino
Erguem-se em muralhas cinzas
Tristes, incapazes de amar
Desconhecem o transpassar
do tempo da alma viajante
livre das prisões sem portas.

domingo, 3 de agosto de 2008

SEGREDOS

Lembro dos teus últimos gestos, duas luas vermelhas desenhadas na curva. Vejo por entre as folhas as imagens de uma verdade desnecessária de ser falada mas sutil e essencial.

Pranto na tela o que se exprime em vértices de luz. No espaço crio a certeza do que não morre e insiste em ser feliz. Desta eternidade do instante se faz a cumplicidade. Nas mãos ao ar nuvens de esperanças. Linha infinita inviolável de me saber a amada.

quinta-feira, 31 de julho de 2008

SOL


O sol estende seus braços sobre as árvores.
Pássaros cantam em sinfonia
no cheiro da manhã que invade o quarto.
Aninho em teu peito os sonhos
Corpo doce e manso
Suave repouso
que insiste em amanhecer.

segunda-feira, 28 de julho de 2008

LUA



O perfume incrustado na pele corre por entre as veias. Cada detalhe desenha em cores as linhas do caminho. Olhos perdidos na plenitude compartilhada. Estendida, languida e dormente. Deitadas sobre a pele gotas de coração se espalham no toque . Ritmo do respirar em danças de estrelas.

Que passa diante dos olhos de quem não vê o amor?

Ele se denuncia no olhar, na risada e na beleza, na serenidade da pálpebra cortina dos sonhos, no pulsar constante da dança de almas. Eternamente juntas. Seladas bocas. Para sempre!

segunda-feira, 21 de julho de 2008

JANELAS




Espreitas e vigias
Espectro de verdade plena
Olhos vivos
Vivos de amor
Janela aberta
Pintada de vermelho
salpicada de brilho
Lua cheia de marinho
batiza o anoitecer.
Repouso no amor
sem fronteiras
Recosto minha face
na noite
Suspiro a entrega
do cálice sutil.



segunda-feira, 14 de julho de 2008

CAMINHEIRO, CAMINHANTE...


Caminheiro, Caminhante...


Em cada posto
Finca e marca
Dunas rosas
Perfumado amor
Flor perene
Lenta, doce
Embalada.
Danço, canto
Desenho
Limo em gotas
Orvalhadas
Úmido sorriso
Pedaços de céu
Olhos amados
Desvelados
em noites
sem dormir.

sábado, 5 de julho de 2008

MANHÃS






“Sou tua manhã, teu pensamento
primeiro”


Guardas
Como cada célula do teu corpo
O reflexo da minha imagem.
Distante e tão próxima
Liquida figura
Beija a margem do rio
Corredeiras vivas
Pedras molhadas.
Estou aqui
Batendo no teu peito
Viva e impressa
Olhos perdidos
Não escapa de ti.

segunda-feira, 23 de junho de 2008

CHAMAS




Ouço o compasso

das batidas do teu coração

colado na minha face.

Ressoa o criptar das chamas

aquece o sabor do encontro.

O silêncio das palavras

ecoa em nossas mãos.

Basta que se toquem.

terça-feira, 3 de junho de 2008

VISITA

Descortino o sol que borda a terra e espero suavemente o momento de nosso encontro. Desconhecido de tempo por que se dá a cada dia em que se conectam as luzes que invadem a alma. O espaço compartilhado a cada instante em que te vejo passar por minha porta e olhar-me por dentro. O mesmo arrepio de sempre percorre a pele tocada com teus olhos.

Duvidas de mim e não me chamas no portal. O sol lá fora avista o conforto desta sombra, interlúdio de silêncio de espera de te saber aqui.

Ah! Doce encontro orquestrado em boleros e vinhos...

Enquanto o sol descortina as curvas do horizonte teus olhos despem minhas vestes e minha nudez tatuada lânguida e dormente amanhece em ti.

sexta-feira, 30 de maio de 2008

PRESENÇA


Estas aqui.


Em silêncio nos tocamos.


Vibra a semente.


A alma persegue e persiste


Segredando sussurros


Com labios de infinito.




quinta-feira, 15 de maio de 2008




ENCONTRO



A cada encontro suspendo no ar os pés de bailarina, impulso de alma expandida. Inspira e expira em notas cadenciadas na mística pura do instante pulsar. Ciranda, cirandinha...

Recorto as linhas pontilhadas e encaixo no olhar transformado da partida em encontro. Contorce a fibra até a última gota e sacode o ar que me aquece. Incerteza suspensa na certeza de saber.

Crio a força enroscada na pele e puro movimento passo e repasso em compasso. Lento, leve, solto, enfim. Parte de mim ergue a face e suspende o ar engolido e em propulsão da alma, explode e plana. Dança nas nuvens das pálpebras, giram as luzes, ergue a cortina segue o espetáculo.

Verso lento de amor, corre nas veias e flui acariciando os trigos que dançam na margem seguindo sua própria música em outros universos. Nestas mãos que extendem e entendem. O ar gelado no rosto ri e inicia novo giro. Dança e roda e ri.

segunda-feira, 12 de maio de 2008

VESTES


VESTES


Rasgo as vestes que me cobriram por tanto tempo, descubro a menina e redescubro seus sonhos.

Aproximou-se mansamente, colocando as mãos sobre minha cabeça embalando meu choro, abandonos e perdas. De olhos rasos d’água, mal podia divisar a figura, antes tão distante e agora veste e deslumbra. Doce sabor deste toque que acorda. Desliza sobre a pele o arrepio de cada sensor, espetados em agulhas prontos a sentir. Tomo o ar profundo até encostar-se ao umbigo, acalmo o coração pulsando desordenadamente em alegria.

Retorno em torpor a cada imagem projetadas como filme na face e percebo as que são e que não são mais. Despeço com ternura os ganhos e desenganos, partículas sagradas do momento, selados aqui.

Ouço o cantar de sabiá nos risos e choros de meus netos, que ensinam a voltar à roda e dançar e cantar. Rodo a saia cor de rosa com laços e fitas desenhados, na meia branca, sapatinho de verniz. Solto o riso gargalhado nas letras das cantigas que ouvi de ti.

Tudo se faz e se reconstrói neste caminho. Miro com olhos da distância longínqua onde se unem os ventos e toco a face com ternura sentindo o pulsar de fitas em belo dançar, rodar e rodar. Solto os cabelos, levanto os pés em ponta, abro os braços e giro, abraço a natureza que acolhe tonta e acalanta.

Tempo e espaço se unem em rito sagrado.

-Menina, cuida onde pisas!

Ela, com seu olhar pleno de conseqüência, olha e diz:

- Sempre soube de mim. Agora já sabes disso. Vem! Vamos brincar.

De pés descalços encho as unhas com terra, deito sobre a pedra quente com teto de via látea.

sexta-feira, 18 de abril de 2008



RESSURGIR

A água enroscada nos sopros da brisa brincava de fazer imagens.

Vejo-a refletida em nascimento e morte.

Uma forte luz cruza o espaço e hipnotiza os sentidos.



O jardim içava perfeito em formas e graça, as folhas balançavam a musica do vento e sussurravam cantigas de ninar. Neste espaço, vivo e pleno de abandono, embala a cantiga que oculta e amortiza. Quantas vezes precisou morrer para nascer em cada parto escorregado de dentro das carnes transpiradas em lucidez? Suaves contornos de mãos que acariciam a face ainda sem controle por onde passeiam os dedos, cerram os olhos ao arrepio cortante e gelado, prenunciando ondas quentes e tremulas, percorrendo cada pelo e pele, dançam na espinha dorsal suas vestes.
Terna magia de rever e ter no mesmo espaço-tempo a suave loucura da consciência, tudo se percebe em plena forma e curvas, desenhadas no papel vazio. Num átimo suspenso desenrola-se a face do destino, o silêncio se atreve a persistir nos tímpanos enquanto a música do nada se perde no instante do dó. Suave gemido de tom, parado e suspenso no ar que se encobre nas nuvens movidas em descompasso.
Fere os olhos na luz que brilha com a intensidade do raio. Movem-se os lábios sem palavras em contornos sutis de mímica descompassada. Treme o corpo em ondas elétricas, últimos solavancos de passado que se esvai e perde-se na escuridão da noite sem significado. Ressurge multicolorido o horizonte da palheta do artista adormecido em longos pincéis. No eterno instante que morre em cada segundo que surge, transmuta o corpo a nova figura.


Assim te recebo em meu colo.

quinta-feira, 6 de março de 2008

SILÊNCIO

Mergulho e despeço da vida seus fantasmas
Compartilho o vazio que ficou para trás.
Transcendo tempo e espaço,
Intensamente desato laços e remendos.
Goiaba, bergamota e caqui.
Espelhos, taças, rastros.
Traço com intensidade e me registro.
Ponho e disponho.
Desvisto velhos temas.
Canto a poesia
Na aurora silenciosa.


sábado, 23 de fevereiro de 2008

Beija Flor


Ao meio- dia vens me visitar.
Entras pelas janelas da minha alma e pousas parado no ar.
Suaves beijos, leves toques espalhados, suspensos.
Compartilho contigo cada momento por que te sei.
Profundo silêncio.
Repousas em meu regaço.
Acalentas e embalas meu sorriso.
“Dormirás tranqüilo,
aninhado no conforto da falta que eu te faço.
Morrendo devagar, partícula a partícula...
Os teus órgãos arrefecem -
há quanto tempo não te arde o coração?”
EDUARDO GALEANO. O LIVRO DOS ABRAÇOS.

domingo, 27 de janeiro de 2008

4 TOQUES


4 toques, mudos, parados no ar
Dormia em sonhar contigo

Este momento paralisante, permeado pela luz que passa entre as vidraças e me acolhe do vento que saracoteia as nuvens brincando de frio em pleno verão, era digno de uma foto, não...Tem a música ..Eu sei que vou te amar...por toda minha vida vou te amar... Meu respirar permeia minha pele e sinto como se escutasse o pipocar das pedras anunciando visita. Recosto o rosto no vidro para se acalorar nos últimos raios de sol. Fecho os olhos e respiro o cheiro de mato. Com o corpo a balançar faço cada nota parte de meu despertar...Neste silêncio...neste sorriso que brinda meus lábios sinto-me erguida em meus mantos...Danço.

Meu coração agradece o entardecer e me permito a melosidade do quadro comum, mas nestas horas a mente lembra apenas coisas bobas, como aquelas coisas de criança, sei lá...É só deixar rolar o pensamento e elas estão lá todas enfileiradinhas. Mas a que eu mais gosto é... Obrigada!

Quero muito saber de ti...

Só sei de quatro toques na madrugada...

domingo, 20 de janeiro de 2008

CALEIDOSCÓPIO


Esta imagem que
Me acolhe, me toma
Jorra minuto a minuto
Por saber de mim.
Cruzo portais.
Fraca,
Insiste a vida a
Correr nas veias.
Lágrimas carregadas de
Infinitos pontos de luz.
Caleidoscópio verde e terra
Paralisa e inunda o olhar.

quinta-feira, 10 de janeiro de 2008

SEGREDO


Tenho ainda colada nas mãos a tua pele.
Minha boca saboreia o beijo quente e calado
Colado nos céus onde vislumbrastes estrelas.
Respiro o suave sabor da tua entrega
Corpos unidos no compasso da sinfonia
Composta de amor e desejo.
Doce amor que nos envolve
Longe de todas as torturas.
Sórdidas prisões sem alma
Calabouços úmidos sem luz
Irrompe-se em luz e liberdade.
Arcanos do segredo e do tempo
Anunciam nossa ventura.

sexta-feira, 4 de janeiro de 2008

SEM RASURAS

Depois de 90 dias, a alma, que em silêncio viu passar a vida, reverenciou os signos, retorno fiel das visões, e marcou as trilhas da caminhada. Por onde andava bebeu na fonte, cortou o mato e abriu picadas.
Lançou-se em viagem, em abandono deixou tudo para trás. Rompeu véus de perplexidade, arriscou sua sorte e partiu até que a vida lhe parou. Parou a vida, parou de respirar, foi-se a seiva, mas a alma continuava ao meu lado, mostrava guardada em cofres de ouro e prata a mesma seiva . Nada se perdera. Tudo estava intacto.
Viu a volta do amor perdido que em seu regaço afundou suas mágoas e em gestos de dor e descompasso chorou o amargor das escolhas sacrificadas. Mãos estendidas e desamparadas. Abraços, beijos, entregas...Ah! minha alma, descanso minha saudade. A distância em realidade nos uniu alma com alma, nada separa .
Vejo tudo que partiu voltar, intacto, sem rasuras...
O amor permanece, e assim permanecerá..
Compreendo então, minha alma, a lição do encanto, a lição do impenetrável.
Este lugar de céu que construístes em mim.
Abro os braços, deito na relva fresca da manhã, digo bom dia ao sol e me entrego a vida.