sexta-feira, 18 de abril de 2008



RESSURGIR

A água enroscada nos sopros da brisa brincava de fazer imagens.

Vejo-a refletida em nascimento e morte.

Uma forte luz cruza o espaço e hipnotiza os sentidos.



O jardim içava perfeito em formas e graça, as folhas balançavam a musica do vento e sussurravam cantigas de ninar. Neste espaço, vivo e pleno de abandono, embala a cantiga que oculta e amortiza. Quantas vezes precisou morrer para nascer em cada parto escorregado de dentro das carnes transpiradas em lucidez? Suaves contornos de mãos que acariciam a face ainda sem controle por onde passeiam os dedos, cerram os olhos ao arrepio cortante e gelado, prenunciando ondas quentes e tremulas, percorrendo cada pelo e pele, dançam na espinha dorsal suas vestes.
Terna magia de rever e ter no mesmo espaço-tempo a suave loucura da consciência, tudo se percebe em plena forma e curvas, desenhadas no papel vazio. Num átimo suspenso desenrola-se a face do destino, o silêncio se atreve a persistir nos tímpanos enquanto a música do nada se perde no instante do dó. Suave gemido de tom, parado e suspenso no ar que se encobre nas nuvens movidas em descompasso.
Fere os olhos na luz que brilha com a intensidade do raio. Movem-se os lábios sem palavras em contornos sutis de mímica descompassada. Treme o corpo em ondas elétricas, últimos solavancos de passado que se esvai e perde-se na escuridão da noite sem significado. Ressurge multicolorido o horizonte da palheta do artista adormecido em longos pincéis. No eterno instante que morre em cada segundo que surge, transmuta o corpo a nova figura.


Assim te recebo em meu colo.