sexta-feira, 30 de maio de 2008

PRESENÇA


Estas aqui.


Em silêncio nos tocamos.


Vibra a semente.


A alma persegue e persiste


Segredando sussurros


Com labios de infinito.




quinta-feira, 15 de maio de 2008




ENCONTRO



A cada encontro suspendo no ar os pés de bailarina, impulso de alma expandida. Inspira e expira em notas cadenciadas na mística pura do instante pulsar. Ciranda, cirandinha...

Recorto as linhas pontilhadas e encaixo no olhar transformado da partida em encontro. Contorce a fibra até a última gota e sacode o ar que me aquece. Incerteza suspensa na certeza de saber.

Crio a força enroscada na pele e puro movimento passo e repasso em compasso. Lento, leve, solto, enfim. Parte de mim ergue a face e suspende o ar engolido e em propulsão da alma, explode e plana. Dança nas nuvens das pálpebras, giram as luzes, ergue a cortina segue o espetáculo.

Verso lento de amor, corre nas veias e flui acariciando os trigos que dançam na margem seguindo sua própria música em outros universos. Nestas mãos que extendem e entendem. O ar gelado no rosto ri e inicia novo giro. Dança e roda e ri.

segunda-feira, 12 de maio de 2008

VESTES


VESTES


Rasgo as vestes que me cobriram por tanto tempo, descubro a menina e redescubro seus sonhos.

Aproximou-se mansamente, colocando as mãos sobre minha cabeça embalando meu choro, abandonos e perdas. De olhos rasos d’água, mal podia divisar a figura, antes tão distante e agora veste e deslumbra. Doce sabor deste toque que acorda. Desliza sobre a pele o arrepio de cada sensor, espetados em agulhas prontos a sentir. Tomo o ar profundo até encostar-se ao umbigo, acalmo o coração pulsando desordenadamente em alegria.

Retorno em torpor a cada imagem projetadas como filme na face e percebo as que são e que não são mais. Despeço com ternura os ganhos e desenganos, partículas sagradas do momento, selados aqui.

Ouço o cantar de sabiá nos risos e choros de meus netos, que ensinam a voltar à roda e dançar e cantar. Rodo a saia cor de rosa com laços e fitas desenhados, na meia branca, sapatinho de verniz. Solto o riso gargalhado nas letras das cantigas que ouvi de ti.

Tudo se faz e se reconstrói neste caminho. Miro com olhos da distância longínqua onde se unem os ventos e toco a face com ternura sentindo o pulsar de fitas em belo dançar, rodar e rodar. Solto os cabelos, levanto os pés em ponta, abro os braços e giro, abraço a natureza que acolhe tonta e acalanta.

Tempo e espaço se unem em rito sagrado.

-Menina, cuida onde pisas!

Ela, com seu olhar pleno de conseqüência, olha e diz:

- Sempre soube de mim. Agora já sabes disso. Vem! Vamos brincar.

De pés descalços encho as unhas com terra, deito sobre a pedra quente com teto de via látea.